terça-feira, 13 de maio de 2008

Proletariado

É o conjunto de trabalhadores que necessitam vender a sua força-de-trabalho a um empresário.

O proletariado é a classe trabalhadora urbana basicamente formada de operários, operadores repetitivos de máquinas, surgidas na Revolução Industrial. O proletariado na teoria marxista e na de outros pensadores econômicos como Proudhon, de base anarquista, é a classe social que vende sua força de trabalho à classe capitalista, detentora dos meios de produção.

Esta classe, ao contrário da classe detentora do capital, pode oferecer ao mercado apenas sua força de trabalho, ou seja, "dar à prole" , "oferecer seus próprios filhos". A palavra tem origem romana[carece de fontes?] e referia-se à classe social inferior caracterizada pela quantidade enorme de filhos (prole), daí o nome proletariado que foi e é usado atualmente.

Segundo Karl Marx, é o trabalhador urbano ou rural que não é detentor dos meios de produção e tem como única mercadoria de venda sua força de trabalho. Esta definição era mais simples nos tempos de Marx do que hoje,são as classes fundamentais da sociedade capitalista, tendo interesses contraditórios não passíveis de conciliação. A solução do impasse - segundo o mesmo pensador - apenas poderia ser obtida através da união do proletariado e destruição da sociedade capitalista, utilizando-se, para isto, da expropriação dos meios de produção pelo caminho indireto revolucionário comunismo, já que as versões marxistas e de influência procuram no Estado a base para seu poder político, retardando a emancipação dos oprimidos e explorados. A expropriação, neste sentido, é a mudança de muitos donos para um apenas, o Estado totalitário ou ditadura do proletariado.

Atualmente, nos países capitalistas avançados, o proletariado tem padrão de vida muito superior em relação às suas condições do início da Revolução Industrial, quando jornadas de mais de doze horas e a intensa utilização de mão-de-obra infantil eram a regra. Apesar de que as condições de trabalho nesses países vem regredindo nos últimos anos com a introdução de reformas neoliberais, o trabalho infantil e jornadas cada vez maiores são práticas comuns na flexibilização do trabalho, tal com o uso de mão-de-obra escrava. Os trabalhadores imigrantes, em especial, têm sido submetidos a condições de trabalho degradantes na Europa. E temos a migração das fábricas para países sem leis trabalhista que garantam os direitos dos trabalhadores.

Infra-estrutura

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O termo infra-estrutura, na sua acepção mais lata, pode ser definido como um conjunto de elementos estruturais que enquadram e suportam toda uma estrutura. O termo possui diversas acepções em diferentes campos, mas o mais comum é o referente aos sistemas viários, de esgotos, de fornecimento de energia, etc. de uma cidade ou região.

Estes elementos, no seu todo, podem ser designados de infra-estruturas civis, infra-estruturas municipais ou obras públicas, se bem que possam ser desenvolvidas e geridas tanto pelo sector privado como por empresas públicas. Noutros campos, infra-estrutura pode designar as tecnologias da informação, canais de comunicação formais ou informais, ferramentas de desenvolvimento de software, redes políticas e sociais ou sistemas de crença partilhadas por membros de grupos específicos. Estas acepções gerais têm subjacente o conceito de que as infra-estruturas constituem um quadro organizacional e uma estrutura de suporte do sistema ou organização em causa, seja uma nação, uma cidade ou uma corporação.



FICHAMENTO DE:
GRUPPI, Luciano. Tudo começou com Maquiavel. Trad. Dario Canali. 5.ed. Porto Alegre: L&PM Editores, 1986. 94 p.

PARTE I - A CONCEPÇÃO DO ESTADO EM MARX E ENGELS

Ao se fazer uma breve reedição da história do mundo, podemos perceber que o tópico principal de que se trata, o Estado moderno, ou seja, o Estado unitário que tem um poder próprio, independente de quaisquer outros poderes, começou a surgir a partir da última metade do século XV na França, Inglaterra e Espanha, depois se disseminando pela Europa.

O Estado moderno apresenta três características que o diferencia dos Estados do passado: a soberania absoluta do Estado; a diferenciação entre Estado e sociedade civil; e a identificação entre o Estado e o monarca, que simboliza a soberania estatal, em oposição ao Estado na Idade Média, quando este era patrimônio do monarca.

Os pensadores políticos desde N. Maquiavel até G.W.F.Hegel

* Nicolau Maquiavel (1469-1527)
Como diz o título da obra que está sendo fichada, tudo realmente começou com Maquiavel. Foi ele o precursor da ciência política. Foi ele que elaborou a primeira teoria de surgimento do Estado moderno, mostrando que a política também era uma disciplina autônoma, e que o Estado possuía seus próprios caracteres, fazendo política e seguindo sua técnica e suas próprias leis. Consoante o nobre autor italiano, a política deveria se preocupar com a vida concreta, de como as coisas estão e não como as coisas deveriam estar, sendo esta, ocupação da moral. Conforme o que futuramente irão dizer autores como Hegel, de Sanctis e Antonio Gramsci, Nicolau Maquiavel forma uma nova moral, que é a do cidadão que edifica o Estado e que vive no relacionamento entre os homens. Ele ainda diz que o poder do Estado moderno deve ter como sustentáculo o terror, porque os homens são maus e só obedecem por medo de alguma sanção, castigo.

* Jean Bodin (1530-1596)
Enquanto o italiano Maquiavel divagava teorias sobre a criação do Estado, Bodin já era mais realista e discutia sobre um Estado unitário que já existia, o francês. Só que essa discussão se calcava também em teorias, no caso relativas a autonomia e soberania do Estado moderno, pois Bodin atestava que o monarca interpreta as leis divinas e obedece a elas de maneira autônoma e que o Estado é estabelecido essencialmente pelo poder. O que Bodin dizia, podemos ver pela seguinte passagem: "É a soberania o verdadeiro alicerce, a pedra angular de toda a estrutura do Estado, da qual dependem os magistrados, as leis, as ordenações; essa soberania é a única ligação que trans-forma num único corpo perfeito (o Estado) as famílias, os indivíduos, os grupos separados. O Estado, para Bodin, é poder absoluto, é a coesão de todos os elementos da sociedade" GRUPPI (1986:12).

* Thomas Hobbes (1588-1679)
O autor de "Leviatã" assegura que os seres humanos são maus por natureza, vivendo constantemente em guerra e destruição mútua, sendo famosa aquela sua frase de que "o homem é o lobo do próprio homem". O que é que deveria acontecer para evitar isto? Surgir algo forte para mediar estas relações. Assim, tem-se as bases para que se institua um Contrato Social, criador de um Estado absoluto que acaba por apaziguar ânimos e impulsos, impedindo desta maneira, a deflagração de qualquer espécie de guerra entre os homens. Este Estado deveria ser super rígido no que concerne ao seu poder, pois com isso acabaria permitindo a conser-vação da humanidade e da plena condição de uma vida mais confortável.

* John Locke (1632-1704)
O fundador da teoria filosófica empírica e também teórico da revolução liberal inglesa, apresenta uma concepção tipicamente burguesa. Ele garante que no "estado de natureza", o homem, livre, tem necessidade de limitar esta sua liberdade para preservar a sua propriedade. Dessa maneira, fica estabelecido um contrato que cria a sociedade e o Estado, garantindo destarte, a segurança da propriedade. Uma diferença entre o que Hobbes dizia e o que Locke passa a dizer, é que o Contrato Social hobbesiano funda um Estado absoluto, enquanto para Locke, o Estado que não acatar o contrato, será desmanchado como qualquer contrato. O Estado, deste modo, deve garantir certas liberdades como a da assembléia, a da palavra, etc. Entretanto, em primeiro lugar, vem a liberdade da iniciativa econômica.

==> Para os pensadores do individualismo burguês, o indivíduo preexistiu ao Estado, que nasceu de um contrato entre os homens. O que é fantasioso, pois o homem só se tor-na homem vivendo em sociedade.
==> Para Locke, a autoridade do Estado vem somente do contrato, o Estado não recebe sua soberania de nenhuma outra autoridade. O Estado ainda, possui uma concepção burguesa, ao ter a finalidade de conservar a propriedade, o que pressupõe e requere que o povo tenha uma propriedade para entrar na sociedade.

Por fim, Locke também já apresentava uma distinção entre sociedade política e sociedade civil, isto é, entre o público e o privado. Na Idade Média, a sociedade e o Estado formam um conjunto só. Na sociedade burguesa moderna, são separados, obedecendo a normas e leis diferentes. Os direitos de propriedade são exercidos na sociedade civil, e o Estado deve garantir esses direitos.

* Emmanuel Kant (1724-1804)
Fundamentado na Revolução Francesa e nas teorizações de Rousseau, Kant assevera que a soberania pertence ao povo. Um adendo que faz, é em relação a existência, em sua visão, de cidadãos independentes e não-independentes. Estes são os proprietários, que possuem di-reitos políticos. Aqueles, que não têm propriedade, não têm direito de votar nem de serem eleitos. Este critério é o que acaba norteando toda a concepção liberal. Fica algo cristalino por isto que, na relação existente entre propriedade e liberdade, só é livre quem é proprietário. Essa relação acaba por ser a essência do liberalismo. Kant ainda exibe a típica visão liberal do Estado de Direito: a soberania do povo deve ser delimitada por algumas normas gerais e abstratas que estão acima dela e são invioláveis (os direitos naturais, que são expressão típica dos interesses burgueses), como o direito de proprie-dade, a liberdade de expressão, de palavra, de reunião e de associação. Na prática quem acaba tirando proveito das liberdades garantidas, é quem possui recursos.

* Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Este pensador e filósofo francês, foi capaz de exibir uma percepção democrático-burguesa, oposta ao pensamento hobbesiano. Para Rousseau, os seres humanos acabam viven-do em "fortuna" pelo fato de serem bons, virtuosos. Mas o caso mesmo deste pensamento, é o exposto em relação a sua mentalidade altamente comercial e o seu também alto, grau de individualismo, tipicamente burguês. Rousseau ainda diz que os homens constituem a sociedade (e não o Estado) através de um Contrato Social também, que deve servir à plena expansão da personalidade do indivíduo. O povo não pode perder sua soberania e por causa disso não deve gerar um Estado deslocado de si próprio. O órgão singular soberano é a assembléia, onde esta soberania se manifesta. Os governantes são exclusivamente espécies de "comissários do povo".

Este autor, em sua obra, menciona também a igualdade jurídica e chega a perceber que existe um problema de igualdade sócio-econômica. Para Rousseau, o homem só poderia ser livre se fosse igual. Se surgisse uma desigualdade entre os homens, se findaria a liberdade.

Também Rousseau, em virtude da sua crença no individualismo, tinha certeza que a propriedade seria resultado de uma relação entre indivíduos, da iniciativa de um indivíduo. Seu ponto falho, foi o de não ter sentido que o que produziu a gênese da propriedade foi todo um processo econômico de desenvolvimento das forças produtivas. Por fim, Rousseau acaba recu-sando a dessemelhança entre os poderes com o objetivo de certificar, acima de tudo, o poder da assembléia. Mesmo assim, Rousseau nota os impedimentos do seu modelo: o povo não pode ficar continuamente congregado em assembléia, e o estado ilusório de o homem nunca ceder sua soberania.

* Benjamin Constant de Rebecque (1767-1830)
Este homem acaba levando a um grau máximo a separação entre Estado e sociedade civil. Isto acaba acontecendo por ser a liberdade do homem moderno, grande na esfera privada e limitada na pública, ao contrário dos antigos que acabavam por possuir direitos abissais na esfera pública. Ainda para Constant, os direitos de liberdade são direitos de iniciativa econômica e acabam sendo aproveitados especialmente na vida particular. Destarte, em oposição com o que dizia Rousseau, Benjamin Constant justificava a liberdade como diferença e não, igualdade.

* Charles Tocqueville (1805-1859)
Apesar de acreditar na realização da democracia e da igualdade jurídica, ele ainda pergunta se esta igualdade não acabaria por destruir a liberdade. Nesta época em que ele vive, na Europa se afirmam duas concepções progressistas de Estado: a liberal, defendendo a idéia de existência ao mesmo tempo de propriedade e liberdade - liberdade exigindo desigualdade, e a democrática, que diz que a liberdade baseia-se sobretudo na igualdade jurídica. Na história, vê-se que a concepção democrática, proveniente principalmente da Revolução Francesa, não se separa tanto da liberal (fusão portanto, do liberalismo e da democracia), porém reafirmando o direito da propriedade.

* Benedetto Croce (1866-1952)
Seu ponto de vista é liberal. Apesar da fusão liberal-democrática, rejeita esta visão, e diz que as duas concepções são diferentes. Ele diz que o liberalismo é como um antagonista da monarquia absoluta, do clericalismo e do ideal democrático. Segundo Croce, democratas e liberais portanto, acabam compreendendo de modo distinto o indivíduo, a igualdade, a soberania e o povo.

DEMOCRATAS

LIBERAIS

indivíduos como seres iguais

indivíduos como homens iguais (não como cidadãos)

não era uma soma de forças iguais, e sim, um mecanismo diferenciado, de governantes e governados, com classes dirigentes necessárias para as tarefas do poder

não era uma soma de forças iguais, mas a soberania era somente dos governantes e não dos governados, com uma classe dirigente, a elite da cultura, que na verdade, é a elite da base econômica.

Democracia quantitativa e igualitária

liberalismo qualitativo e espiritualista

* Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)
Lembrando Benjamin Constant, a diferenciação também entre o Estado e a sociedade civil, é colocada da maneira que, o primeiro acaba como fundamento do segundo e da família, não podendo acontecer o oposto. Com isto, é fácil para ele dizer que o povo não existe se não existir o Estado, já que é o Estado que funda o povo. A considerada soberania é pertencente ao Estado e a sociedade civil, absorvida por ele. Como isso que esse autor fala é exatamente o contrário de Rousseau, é completamente sensível para nós que Hegel faz uma crítica da concepção liberal-individualista. Ainda conforme Hegel, o Estado em sua existência é personificado pelo monarca, com este representando a soberania estatal. Apresenta uma concepção absolutista atenuada por uma visão de monarquia constitucional.

A crítica de Karl Heinrich Marx (1818-1883)

A partir da compreensão do trabalho deste homem, o surgimento de uma concepção marxista, nasce uma visão mais crítica do que é o Estado, aquele com características burgue-sas, e também do liberalismo e da democracia.

Esta visão mais crítica se inicia com o comunismo utópico, que tenta provar que a liberdade e a igualdade defendidas pela Revolução Francesa só eram viradas para a classe burguesa e não globais. Sua principal idéia é de que além da igualdade jurídica, deve-se promover também, a igualdade sócio-econômica.

Em duas obras de Marx, vemos a relação feita por ele entre Estado e sociedade civil. Em 1843, com A questão judia, este autor assegura que o Estado é expressão da sociedade civil, das suas relações de produção. Já em 1859, com a Contribuição para a crítica da Economia Política, Marx critica veementemente Hegel ao atestar a não fundação da sociedade civil por parte do Estado, mas aquela, o conjunto das relações econômicas, que explica o surgimento do Estado. É como ele diz: "O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, isto é, a base real sobre a qual levanta-se uma superestrutura jurídica e política, à qual correspondem formas determinadas de consciência social" MARX Apud Gruppi (1986:27).

É importante por fim ressaltar, que Marx não realiza formalmente uma teoria do Estado. Contudo, ele forneceu a teoria capital, a que diz que a estrutura econômica está no alicerce do Estado.

A origem do Estado segundo Friedrich Engels (1820-1895)

Segundo este autor, em sua obra de 1894, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, a sociedade se formou juntamente com a família, e a propriedade privada da caça, quando surgiu o hábito da criação de gado. Com o desenvolvimento da economia despontam as diferenças econômicas, de classes e com a conseqüente crise do ordenamento gentílico surge a organização do Estado para institucionalizar a dominação econômica através da dominação política da classe proprietária. O Estado impede que as camadas com interesses econômicos opostos aniquilem a si mesmos e a própria sociedade. "O Estado é então a expressão da dominação de uma classe, é a necessidade de regulamentar juri-dicamente a luta de classes, de manter determinados equilíbrios entre as classes em conformidade com a correlação de forças existente, a fim de que a luta de classes não se torne dilacerante" GRUPPI (1986:31).

Apesar de tudo, esta obra de Engels, embora ainda chegue até a descobrir a natureza de classe do Estado, é muito geral e não desempenha ainda uma teoria orgânica do Estado capitalista.

A igualdade jurídica - A extinção do Estado e a liberdade do homem - A ditadura do proletariado - Sobre a Comuna de Paris

Todos são iguais perante a lei. Esta frase que é um dos princípios de nossa Constituição, não é de hoje que existe. Marx já dizia que, em uma democracia burguesa, a igualdade jurídica serviria para discernir a posição do homem nas relações de produção da sua figura jurídica de cidadão. Porém, como vemos o que acontece a nossa volta nos dias de hoje, essa igualdade jurídica não é uma igualdade de fato, pois um operário nunca foi e nunca será igual ao patrão (claro salvando raras exceções), para usar o exemplo dado na obra fichada. Ainda conforme Marx, seria mister uma espécie de revolução sócio-econômica depois de uma revolução política, com o objetivo de instituir uma igualdade naquele campo. O primeiro passo desta revolução por parte dos operários seria a conquista da democracia e do poder pelo proletariado. Como o segmento dominante, o proletariado apropriaria-se dos meios de produção, os socializaria (tornaria-os coletivos) e dirigiria a chamada ditadura do proletariado, que levaria ao comunismo. Durante esse processo, o Estado se extinguiria, logicamente, pois como o Estado é a dominação de uma classe sobre outra, ele não teria mais o seu motivo de existir.

E para que o comunismo? Só ele é que, segundo Marx, possibilitaria principalmente a liberdade plena, além do desenvolvimento da personalidade. Se é tão bom, como é que se vai dar este comunismo? Primeiramente por aquela fase de transição, a ditadura do proletariado. Depois, com o desaparecimento da subordinação na divisão do trabalho e com a idéia de que o trabalho não é tão somente um meio de viver, e sim, a primeira necessidade da vida. Além disso, "o comunismo (...) pressupõe então também um alto nível de bem-estar, pois então cada um poderá receber de acordo com suas necessidades. Só então poderá ser superado o estreito jurídico burguês, que estabelece uma lei igual para todos" GRUPPI (1986:44).

Pelo que foi visto, podemos observar como conclusão, que na sociedade comunista acabam coincidindo: direção e autogoverno, direção e espontaneidade, sociedade e indivíduo.

PARTE II - A CONCEPÇÃO DO ESTADO EM LÊNIN E GRAMSCI

Karl Kautsky: "renegado" ou não?

Apresentando este sujeito, foi ele o principal teórico da Segunda Internacional, sendo criticado duramente por Lênin ao exibir uma concepção do marxismo muito "contaminada" pelo positivismo. Com a Revolução Bolchevique em 1917, Kautsky vira de lado e passa a pregar uma visão anti-revolucionária, ou seja, anti-comunista.

As principais idéias de Kautsky eram a de caracterizar o Estado como um instrumento de dominação da classe mais forte economicamente, e a de que todos os partidos políticos têm como finalidade a conquista do poder político.

O debate em torno de E. Bernstein

Edward Bernstein, discípulo de Engels, propôs em cerca de 1895, uma revisão da teoria marxista por achar que ela não estava sendo condizente com a realidade, já que, por exemplo, os operários participavam de eleições e do Parlamento. Esta revisão, conhecida como revisionismo, foi também "contaminada" pelo positivismo. Nela Bernstein afirma entre outras coisas que: (1) Marx seria adepto a teoria do empobrecimento absoluto, (2) a polarização crescente entre as classes e a proletarização das classes médias, previstas por Marx, seriam falsas, (3) a validade da concepção da ditadura do proletariado é errada.

Críticos deste revisionismo foram Kaustsky e Rosa Luxemburgo. Todavia, este revisionismo acabou encontrando espaço na social-democracia sob o molde de oportunismo.

O Estado e a revolução - Os Sovietes e a Comuna - Nem tudo deve ser "quebrado" - Democracia e ditadura do proletariado - Contra o burocratismo

A teoria marxista estava em crise. E isso fica provado pela Segunda Internacional, que contaminada pelo positivismo, a criticou duramente. Com a sua primeira obra de cunho completamente teórico, O Estado e a revolução, Lênin pretendia voltar a exatamente o que Marx e Engels pensavam como concepção original de caráter revolucionário. E o que ele queria com isso? Fazer com que o partido bolchevique possuísse este cunho ideológico. Além disso, Lênin mostraria também.

Lênin reafirma a idéia de Karl Marx, segundo a qual o Estado tem caráter de classe - ditadura de classe, conforme suas palavras. Para Lênin, todos os tipos de Estado são ditaduras, mesmo a democracia burguesa, que, conforme ele, não é uma democracia real, mas uma forma de suplício para a maior parte da população. Desta maneira, é necessário a ditadura do proleta-riado, que é a democracia da maioria e para a maioria, onde todas as liberdades burguesas são transformadas em realidade.

Para admitir a mutação de uma ditadura para outra é mister provocar a ruptura do Estado burguês. A revolução proletária, segundo Lênin, deve realizar-se através da violência. Destarte, com a ditadura do proletariado, o Estado burguês (burocrático e centralizado) acaba caindo e vai se descentralizando, transportando para a sociedade, as funções do Estado tradicional e nesse entendimento, efetuando a democracia plena.

Toda discussão de Lênin é guiada contra os social-democratas, pois estes desconheci-am a necessidade de desmontar o Estado burguês; e também contra os anarquistas, que queriam a abolição imediata do Estado.

Pode-se notar então que esta obra de Lênin, O Estado e a revolução, acaba influenciando não só os da sua época, mas gerações de comunistas. Falando ainda sobre obras, outra que Lênin escreveu foi Conservarão os bolcheviques o poder estatal? Onde estão claramente relacionados os elementos para que se possa exercer o poder estatal, como o exército, a polícia e a burocracia; e os bancos, trustes, trabalhos de estatística e registro. Este último, o setor público da economia, não deve ser destruído, mas apenas libertado das garras do capitalismo e administrado segundo os objetivos da sociedade comunista.

Lênin também diz que a democracia é coerção. Contudo, em um certo estágio do seu desenvolvimento, a democracia unificaria o proletariado contra o capitalismo, munindo este a possibilidade de destruir o Estado burguês. Lênin consegue ver nisto uma relação entre democracia burguesa e a revolução proletária.

A essência da ditadura do proletariado, segundo ele é a organização e a disciplina do próprio proletariado. Lênin destaca as diferenças entre as formas de ditaduras do proletariado, dizendo que estas diferenças culminam do aspecto de que cada país tem sua realidade, suas características, suas estruturas econômicas e sua cultura.

Diante do que fala Lênin em toda a sua obra, não é demais questionar a possibilidade de existência de um sistema marxista do Estado. Na produção leninista, ele aparece, sem contudo, corresponder à realidade. Dizemos então, que o marxismo é essencialmente um método de crítica, uma crítica continuada da realidade e das teorizações precedentes.

Desde Lênin até Gramsci - Os conselhos de fábrica - A necessidade de explorar o terreno nacional - Hegemonia e bloco histórico - A noção de intelectual

Antonio Gramsci foi o primeiro leninista italiano, fazendo com que o movimento ope-rário italiano entrasse em convívio com a doutrina de Lênin. Durante a época que esteve preso, Gramsci escreveu a obra Cadernos do Cárcere, onde aprofundou ainda mais o pensamento do líder bolchevique. Nela, há a definição de que a ditadura do proletariado se constituía uma abissal revolução cultural, além de ser uma revolução claramente político-econômica.

Além disso, Gramsci analisou também o Estado liberal italiano, no aspecto das limitações de sua democracia - dominação do executivo sobre o legislativo e o judiciário.

O que Gramsci propunha, assim como Lênin, era a conquista do tipo de Estado vigente, através da revolução, para que houvesse o crescimento de uma nova espécie de Estado. Em sua visão, o proletariado poderia se tornar uma classe dirigente através de um sistema de alian-ças de classe, ponto decisivo para a conquista do poder e da hegemonia, esta que em sua forma estatal era a ditadura do proletariado, segundo o autor trabalhado neste tópico. Com isso, ele faz a sua diferenciação entre sociedade civil e Estado. Para ele, na medida em que se conse-guisse a hegemonia na sociedade civil, a ditadura do proletariado ganharia espaço no Estado. Porém, ele próprio chama a atenção que na realidade os dois elementos estão fundidos, sendo essa pretensa dicotomia mera "distinção" de método. Agora, vale ressaltar que essa ditadura do proletariado é chamada de hegemonia apenas para que se sobressaia a função dirigente e para que a política que tivesse que ser feita, fosse através do convencimento, ocasionando um consenso, a cooptação política de toda a sociedade. A hegemonia, além disso, seria a conquista de um novo nível cultural. Gramsci portanto defendia que, a violência não poderia ser a fonte primária da política. A mudança deveria ser cultural e que a revolução ocorreria devido a razão, ao conhecimento.

Ainda sobre Gramsci, e agora sobre o que falava sobre o bloco histórico - a relação entre infra-estrutura e supra-estrutura, ou seja, o mundo econômico e o poder político e o Direito (o Estado), ele falava que o bloco só se manteria integrado com uma influência político-ideológica forte, onde se obteria consenso entre trabalhadores e proprietários dos meios de produção. Outra definição de Gramsci é a do bloco de poder, que seria como uma fase de transição para um novo bloco, para uma nova sociedade, a sociedade comunista.

As classes subordinadas, para se autonomizarem, necessitariam de um partido, no sen-tido de concepção cultural. Com essa autonomia, precisam ficar hegemônicas (condição sine qua non há espaço para a conquista do poder). A hegemonia por sua vez, acaba unindo o pensamento e a ação.

Gramsci define também um novo conceito de intelectual, o grande intelectual: este é o homem que em momentos de crise, dotado de poder forte e carismático, se autonomiza e se transforma em um opção. Tem noção sobre seu trabalho e desprende energia ao executá-lo. São estes intelectuais que mantém unido o bloco histórico, elaboram a hegemonia da classe dominante.

Gramsci, ainda dentro do seu esquema de definições, dita mais uma, a de supremacia. Dizia ele que, uma classe tem supremacia na medida que tem a direção e o poder e que para apoderar-se deste poder deve-se primeiro conquistar a direção, ou seja, a hegemonia.

Por fim, podemos afirmar que Gramsci em sua visão, compreendia a revolução como uma crise de hegemonia e da capacidade dirigente detentora do poder, pois eles ao não conseguir mais resolver a problemática que se abateria em uma nação, nem sustentá-la unida ideologicamente, levam a uma crise brutal, crise da separação entre direção e poder, crise cultural e crise moral.

O Partido como moderno "Príncipe" - Que tipo de pluralismo?

O partido para Antonio Gramsci é o elemento decisivo da formação da hegemonia da classe operária. Chamado de "moderno Príncipe" por ser a personificação da vontade coletiva, possui o ponto do elemento da consciência e da direção, destacado. Ainda, Gramsci afirma a existência de três níveis obrigatórios dentro de qualquer partido existente: o dos dirigentes, o da base e um intermediário. "Gramsci alerta que, só com a base, nunca se cria um partido, pois os elementos dirigentes são indispensáveis" GRUPPI (1986:87).

Gramsci afirmava que as alianças sociais só poderiam se dar dentro dos partidos políticos. Sobre a questão do pluralismo sucintamente precisa ser dito que como só considerava o Partido Comunista, asseverando que só este produzia a Revolução, não aceitava a idéia da pluralidade de partidos.


Fernando Ribeiro Ramos
Florianópolis, 26 de novembro de 1996

O QUE É CAPITALISMO

Em seu sentido mais restrito, o capitalismo corresponde a acumulação de recursos financeiros (dinheiro) e materiais (prédios, máquinas, ferramentas) que têm sua origem e destinação na produção econômica. Essa definição, apesar de excessivamente técnica, é um dos poucos pontos de consenso entre os inúmeros intelectuais que refletiram sobre esse fenômeno ao longo dos últimos 150 anos. São duas as principais correntes de interpretação do capitalismo, divergindo substancialmente quanto a suas origens e conseqüências para a sociedade. A primeira foi elaborada por Marx, para quem o capitalismo é fundamentalmente causado por condições históricas e econômicas. O capitalismo para Marx é um determinado modo de produção de mercadorias (mercadorias são objetos que têm a finalidade de serem trocados e não a de serem usados) que surge especificamente durante a Idade Moderna e que chega ao seu desenvolvimento completo com as implementações tecnológicas da Revolução Industrial. A idéia marxista de modo de produção não se restringe apenas ao âmbito econômico, mas estende-se a toda relação social estabelecida a partir da vinculação da pessoa ao trabalho. Uma característica básica desse modo de produção é que nele os homens encarregados de despender os esforços físicos, que Marx chama de "força de trabalho", não são os mesmos que têm a propriedade das ferramentas e das matérias-primas (posteriormente também das máquinas), denominados "meios de produção". Esta separação proporciona outro aspecto essencial do capitalismo, que é a transformação da "força de trabalho" em uma mercadoria, que portanto pode ser levada ao mercado e trocada livremente (basta lembrar que no modo de produção escravista o objeto da troca é o escravo inteiro, e não só a sua força, enquanto que no feudalismo praticamente não havia trocas econômicas). Assim, a sociedade capitalista estaria dividida entre uma classe que é proprietária dos meios de produção e outra classe cuja única fonte de subsistência é a venda ou troca de sua "força de trabalho". Os argumentos apresentados por Marx para demonstrar a passagem do feudalismo para o capitalismo e a acentuação da divisão do trabalho são elaborados através de uma reconstrução histórica impossível de ser resumida aqui, sendo no momento suficiente apontar que ela passa pela desintegração dos laços entre senhor e servo e pela ampliação das relações comerciais (de troca), estas últimas que permitem uma acumulação inicial de riquezas (chamada por Marx de "acumulação primitiva"). A explicação alternativa foi apresentada por Weber, e enfatiza aspectos culturais que permitiram a expansão do capitalismo. Para ele, o desejo pelo acúmulo de riquezas sempre existiu nas sociedades humanas, como no Império Romano ou durante as grandes navegações, mas até meados do século XVII faltavam condições sociais que justificassem a sua perseguição ininterrupta. Para demonstrar isso ele aponta as amplamente conhecidas condenações feitas pela Igreja Católica às práticas da usura e do lucro pelos comerciantes ao longo do século XV e XVI. Se tais restrições fossem mantidas, a chamada "acumulação primitiva" não teria sido possível. A mudança ocorre com a reforma religiosa promovida por Lutero e principalmente Calvino. Segundo eles, a atividade profissional estaria associada a um dom ou vocação divina, e portanto seria da vontade de Deus que elas fossem exercidas. Assim o trabalho, que antes era visto como um mal necessário, passa a ter uma valorização positiva (v. valores ). Mais que isso, Calvino aponta o trabalho como a única forma de salvação, e a criação de riquezas pelo trabalho como um sinal de predestinação. Esses dogmas religiosos, juntamente com outros menores como a contabilidade diária, formam o fundamento de uma ética, isto é de um conjunto de normas que rege a conduta diária do fiel. Essas normas, ao se encaixarem às exigências administrativas da empresa (valorização do trabalho e busca do lucro), criam as condições necessárias para a expansão da mentalidade (ou do "espírito", como o denomina Weber) capitalista e posteriormente da sociedade industrial . Esta explicação demonstra sua consistência quando observamos o elevado estágio de desenvolvimento econômico das sociedades que abrigaram representantes da Reforma (calvinistas, metodistas, anglicanos...): a Alemanha (berço da Reforma), a Inglaterra (pátria do Anglicanismo), os Estados Unidos (destino de milhares de protestantes expulsos da Irlanda católica e outros tantos imigrantes anglicanos ingleses), e os Países Baixos.


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KARL MARX

Karl Marx

Karl Marx

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Traços biográficos:

Economista, filósofo e socialista alemão, Karl Marx nasceu em Trier em 5 de Maio de 1818 e morreu em Londres a 14 de Março de 1883. Estudou na universidade de Berlim, principalmente a filosofia hegeliana, e formou-se em Iena, em 1841, com a tese Sobre as diferenças da filosofia da natureza de Demócrito e de Epicuro. Em 1842 assumiu a chefia da redação do Jornal Renano em Colônia, onde seus artigos radical-democratas irritaram as autoridades. Em 1843, mudou-se para Paris, editando em 1844 o primeiro volume dos Anais Germânico-Franceses, órgão principal dos hegelianos da esquerda. Entretanto, rompeu logo com os líderes deste movimento, Bruno Bauer e Ruge.

Em 1844, conheceu em Paris Friedrich Engels, começo de uma amizade íntima durante a vida toda. Foi, no ano seguinte, expulso da França, radicando-se em Bruxelas e participando de organizações clandestinas de operários e exilados. Ao mesmo tempo em que na França estourou a revolução, em 24 de fevereiro de 1848, Marx e Engels publicaram o folheto O Manifesto Comunista, primeiro esboço da teoria revolucionária que, mais tarde, seria chamada marxista. Voltou para Paris, mas assumiu logo a chefia do Novo Jornal Renano em colônia, primeiro jornal diário francamente socialista.

Depois da derrota de todos os movimentos revolucionários na Europa e o fechamento do jornal, cujos redatores foram denunciados e processados, Marx foi para Paris e daí expulso, para Londres, onde fixou residência. Em Londres, dedicou-se a vastos estudos econômicos e históricos, sendo freqüentador assíduo da sala de leituras do British Museum. Escrevia artigos para jornais norte-americanos, sobre política exterior, mas sua situação material esteve sempre muito precária. Foi generosamente ajudado por Engels, que vivia em Manchester em boas condições financeiras.

Em 1864, Marx foi co-fundador da Associação Internacional dos Operários, depois chamada I Internacional, desempenhando dominante papel de direção. Em 1867 publicou o primeiro volume da sua obra principal, O Capital. Dentro da I Internacional encontrou Marx a oposição tenaz dos anarquistas, liderados por Bakunin, e em 1872, no Congresso de Haia, a associação foi praticamente dissolvida. Em compensação, Marx podia patrocinar a fundação, em 1875, do Partido Social-Democrático alemão, que foi, porém, logo depois, proibido. Não viveu bastante para assistir às vitórias eleitorais deste partido e de outros agrupamentos socialistas da Europa.

Primeiros trabalhos:

Entre os primeiros trabalhos de Marx, foi antigamente considerado como o mais importante o artigo Sobre a crítica da Filosofia do direito de Hegel, em 1844, primeiro esboço da interpretação materialista da dialética hegeliana. Só em 1932 foram descobertos e editados em Moscou os Manuscritos Econômico-Filosóficos, redigidos em 1844 e deixa-os inacabados. É o esboço de um socialismo humanista, que se preocupa principalmente com a alienação do homem; sobre a compatibilidade ou não deste humanismo com o marxismo posterior, a discussão não está encerrada. Em 1888 publicou Engels as Teses sobre Feuerbach, redigidas por Marx em 1845, rejeitando o materialismo teórico e reivindicando uma filosofia que, em vez de só interpretar o mundo, também o modificaria.

Marx e Engels escreveram juntos em 1845 A Sagrada Família, contra o hegeliano Bruno Bauer e seus irmãos. Também foi obra comum A Ideologia alemã (1845-46), que por motivo de censura não pôde ser publicada (edição completa só em 1932); é a exposição da filosofia marxista. Marx sozinho escreveu A Miséria da Filosofia (1847), a polêmica veemente contra o anarquista francês Proudhon. A última obra comum de Marx e Engels foi em 1847 O Manifesto Comunista, breve resumo do materialismo histórico e apelo à revolução.

O 18 Brumário de Luís Bonaparte foi publicado em 1852 em jornais e em 1869 como livro. É a primeira interpretação de um acontecimento histórico no caso o golpe de Estado de Napoleão III, pela teoria do materialismo histórico. Entre os escritos seguintes de Marx Sobre a crítica da economia política em 1859 é, embora breve, também uma crítica da civilização moderna, escrito de transição entre o manuscrito de 1844 e as obras posteriores. A significação dessa posição só foi esclarecida pela publicação (em Moscou, 1939-41, e em Berlim, 1953) de mais uma obra inédita: Esboço de crítica da economia política, escritos em Londres entre 1851 e 1858 e depois deixados sem acabamento final.

Em 1867 publicou Marx o primeiro volume de sua obra mais importante: O Capital. É um livro principalmente econômico, resultado dos estudos no British Museum, tratando da teoria do valor, da mais-valia, da acumulação do capital etc. Marx reuniu documentação imensa para continuar esse volume, mas não chegou a publicá-lo. Os volumes II e III de O Capital foram editados por Engels, em 1885 e em 1894. Outros textos foram publicados por Karl Kautsky como volume IV (1904-10).

A FILOSOFIA DE MARX

MATERIALISMO DIALÉTICO

Baseado em Demócrito e Epicuro sobre o materialismo e em Heráclito sobre a dialética (do grego, dois logos, duas opiniões divergentes), Marx defende o materialismo dialético, tentando superar o pensamento de Hegel e Feuerbach.

A dialética hegeliana era a dialética do idealismo (doutrina filosófica que nega a realidade individual das coisas distintas do "eu" e só lhes admite a idéia), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera a matéria como a única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambas sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento são as leis da realidade. A realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na síntese que é a "verdade" dos momentos superados. Hegel considerava ontologicamente (do grego onto + logos; parte da metafísica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais ) a contradição (antítese) e a superação (síntese); Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente); Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação.

Ludwig Feuerbach procurou introduzir a dialética materialista, combatendo a doutrina hegeliana, que, a par de seu método revolucionário concluía por uma doutrina eminentemente conservadora. Da crítica à dialética idealista, partiu Feuerbach à crítica da Religião e da essência do cristianismo.

Feuerbach pretendia trazer a religião do céu para a Terra. Ao invés de haver Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem quem criou Deus à sua imagem. Seu objetivo era conservar intactos os valores morais em uma religião da humanidade, na qual o homem seria Deus para o homem.

Adotando a dialética hegeliana, Marx, rejeita, como Feuerbach, o idealismo, mas, ao contrário, não procura preservar os valores do cristianismo. Se Hegel tinha identificado, no dizer de Radbruch, o ser e o dever-ser (o Sen e o Solene) encarando a realidade como um desenvolvimento da razão e vendo no dever-ser o aspecto determinante e no ser o aspecto determinado dessa unidade.

A dialética marxista postula que as leis do pensamento correspondem às leis da realidade. A dialética não é só pensamento: é pensamento e realidade a um só tempo. Mas, a matéria e seu conteúdo histórico ditam a dialética do marxismo: a realidade é contraditória com o pensamento dialético. A contradição dialética não é apenas contradição externa, mas unidade das contradições, identidade: "a dialética é ciência que mostra como as contradições podem ser concretamente (isto é, vir-a-ser) idênticas, como passam uma na outra, mostrando também porque a razão não deve tomar essas contradições como coisas mortas, petrificadas, mas como coisas vivas, móveis, lutando uma contra a outra em e através de sua luta." (Henri Lefebvre, Lógica formal/ Lógica dialética, trad. Carlos N. Coutinho, 1979, p. 192). Os momentos contraditórios são situados na história com sua parcela de verdade, mas também de erro; não se misturam, mas o conteúdo, considerado como unilateral é recaptado e elevado a nível superior.

Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticas: o homem de Feuerbach não tem dimensões, está fora da sociedade e da história, é pura abstração. É indispensável segundo Marx, compreender a realidade histórica em suas contradições, para tentar superá-las dialeticamente. A dialética apregoa os seguintes princípios: tudo relaciona-se (Lei da ação recíproca e da conexão universal); tudo se transforma (lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante); as mudanças qualitativas são conseqüências de revoluções quantitativas; a contradição é interna, mas os contrários se unem num momento posterior: a luta dos contrários é o motor do pensamento e da realidade; a materialidade do mundo; a anterioridade da matéria em relação à consciência; a vida espiritual da sociedade como reflexo da vida material.

O materialismo dialético é uma constante no pensamento do marxismo-leninismo (surgido como superação do capitalismo, socialismo, ultrapassando os ensinamentos pioneiros de Feuerbach).